Mário Soares diz que falta de actuação de Cavaco Silva
pode levar à "perda de paciência e pacifismo" que tivemos até agora
O ex-deputado do PSD
Pacheco Pereira acusou o governo - numa intervenção enviada ao encontro
"Libertar Portugal da Austeridade" - de desprezar os portugueses.
Foi a Mário Soares,
enquanto promotor da iniciativa, que coube o discurso de abertura, na Aula
Magna. Com recados para Belém. "É bom que o senhor Presidente da República
deixe de considerar o governo legítimo", afirmou. Caso contrário, Cavaco Silva
"será responsável pela perda de paciência e de pacifismo que temos tido
até agora". Soares admite mesmo "que o povo se torne mais
violento". "Pense senhor Presidente nas responsabilidades que lhe são
assacados", afirmou o ex-Presidente.
Na mensagem - que foi
lida resumidamente aos conferencistas, mas a que o
i teve acesso na íntegra - Pacheco Pereira defende que o país está a
pagar o preço da "herança de uma governação desleixada e aventureira,
arrogante e despesista, que nos conduziu às portas da bancarrota". A
seguir o ex-deputado lamentou que o actual governo esteja a aproveitar essa
herança para implementar "um programa de engenharia cultural, social e
política que faz dos portugueses ratos de laboratório de meia dúzia de ideias
feitas que passam por ser ideologia".
A isto junta-se,
lamentou o social-democrata, o "desprezo por Portugal e pelos portugueses
de carne e osso, que existem e que não encaixam nos paradigmas de modernidade
lampeira, feita de muita ignorância e incompetência".
Pacheco Pereira acusa
mesmo o governo de ter usado o Memorando para "ajustar contas com o
passado" e de o ajustamento traduzir "apenas o empobrecimento, feito
na desigualdade, atingindo somente os de baixo e poupando a elite
político-financeira".
O ex-líder parlamentar
do PSD acabou a sua intervenção a acusar o governo de praticar "um
discurso de divisão dos portugueses que é um verdadeiro discurso de guerra
civil, inaceitável em democracia, cujos efeitos de envenenamento das relações
entre os portugueses permanecerão muito para além desta fátua experiência
governativa".
Este encontro ficará
marcado por ter conseguido reunir no mesmo espaço o PS, o PCP e o BE. Pacheco
Pereira explicou a sua participação com a convicção de que, como dizia Sá
Carneiro, "os sociais-democratas em Portugal não são de direita". O
evento promovido por Soares, que estava a decorrer à hora de fecho desta
edição, relançou o debate sobre a possibilidade de alianças à esquerda. Na
Assembleia da República, o líder parlamentar do PS, Carlos Zorrinho, voltou a
defender eleições antecipadas e preconizou uma "alternativa que inclua
todos os partidos, da direita e da esquerda". E questionou o BE sobre se
"está disponível para fazer parte dessa alternativa num contexto de Europa
viável e de integração plena".
Umas horas antes,
Zorrinho tinha justificado a ausência no encontro por estar num debate
televisivo, mas deixou claro que é necessário "juntar não apenas as
esquerdas parlamentares, mas também sociais-democratas e democratas-cristãos
desiludidos com este governo".