quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

"Scandale bancaire portugais"

 

O meu amigo e colega Carlos Caires traduziu o texto francês sobre o "Scandale bancaire portugais" de que está publicado em baixo um link para o original.

Aqui fica a tradução. Actualmente há muita gente que não estudou francês, por isso, penso que se justifica tomar conhecimento dele. Não é propriamente exaltante.

Antes triste.

 

"Fazendo uso de uma das suas prerrogativas, o Presidente da República Português Aníbal Cavaco Silva decidiu enviar para o Tribunal Constitucional alguns artigos do orçamento de 2013 porque tinha "dúvidas" sobre a natureza equilibrada de esforços imposta sobre a população de um país prestes a entrar no seu terceiro ano de recessão, numa situação inédita desde a Revolução dos Cravos de 1974. Dúvidas?

Ao mesmo tempo que o chefe de Estado de reputação mais que manchada se entregada a esta manobra perfeitamente demagógica, sabia-se que uma das principais figuras do "cavaquismo", Manuel Dias Loureiro, passava férias de fim de ano no Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, onde um simples quarto custa qualquer coisa como 600 euros por noite. Bem mais que o salário mínimo português. Eis quem deveria bastar para levantar "dúvidas" ao residente do palácio presidencial de Belém.

Responsável por pastas ministeriais chave nos governos PSD nos quais Cavaco Silva era primeiro ministro e antigo membro do conselho de Estado, este santo dos santos da casta política portuguesa, Dias Loureiro, «protégé» de Cavaco, é uma figura central daquilo que deveria ter sido considerado um enorme escândalo europeu, um assunto de Estado, a falência do banco BPN. Esta falência fraudulenta poderá custar ao contribuinte Português, aquele que aperta o seu cinto um furo ano após ano, até sete mil milhões de euros, ou seja, cerca de um décimo da assistência financeira internacional que o país solicitou em 2011 e que teve como contrapartida o programa de ajustamento das contas públicas monitorizado pela pela "troika" UE-BCE-FMI.

A actividade principal dos dirigentes deste banco do "bloco central" (os partidos de centro-esquerda e de centro-direita que têm alternado no poder desde a queda da ditadura de Salazar), consistia em conceder, por dezenas ou centenas de milhares de euros, empréstimos aos seus amigos, familiares, clientes…e a si próprios. Numa reportagem notável, o jornalista da SIC Pedro Coelho acaba de revelar, por exemplo, que uma empresa de cimento da esfera de Dias Loureiro recebeu do BPN um empréstimo de 90 milhões de euros. Uma outra personalidade do "cavaquismo" como Duarte Lima, antigo presidente do grupo parlamentar do PSD, preso em Lisboa e suspeito de homicídio pela polícia brasileira, desviou 49 milhões de euros. O próprio Cavaco Silva terá beneficiado, em condições suspeitas, de uma compra de acções da SLN, holding do BPN, por parte de José Oliveira e Costa, um dos seus antigos secretários de Estado, que pode vender posteriormente obtendo um lucro de 140%. Em suma, o escândalo do BPN é em larga medida aquele do "cavaquismo". E esta personagem tem "dúvidas" sobre a equidade das políticas de austeridade?

Estes milhares de milhões de euros são dados como definitivamente perdidos…mas não para toda a gente. Quando o escândalo estalou em 2009, a imprensa portuguesa revelou que Dias Loureiro, administrador da SLN, tinha organizado cuidadosamente a sua insolvência pessoal e transferido os seus bens para membros da sua família ou para sociedades offshore. Há que ter com que pagar o quarto no Copacabana Palace, certo?

E quem é que Dias Loureiro encontra nas festividades deste hotel, outrora preferido das vedetas de Hollywood?

Ninguém mais que Miguel Relvas, pilar do actual governo PSD, amigo próximo e "père Joseph" do Primeiro Ministro Passos Coelho (1). Relvas, cuja permanência no governo é em si mesma um escândalo, terá obtido de modo fraudulento uma licenciatura universitária de modo a poder ostentar o título de "doutor", termo ao qual a burguesia de Estado lusitana ridiculamente tanto se afeiçoou.

Como Armando Vara, amigo intimo do anterior Primeiro ministro "socialista" José Sócrates que colocou Portugal sob assistência do FMI e da troika, Dias Loureiro e os "cavaquistas" do BPN são a imagem de que a politica profissional, em certas "democracias" europeias, constitui o caminho mais seguro e rápido para o enriquecimento pessoal de uma classe de aventureiros. Na Grécia, na Irlanda, em Espanha, em Portugal. E em França?

Esta é a primeira lição. A segunda, é que as graves disfunções do sistema judicial gangrenadas pela corrupção e traficos de influências permitem a tais indivíduos usufruir em total impunidade dos bens adquiridos. Note-se também que os responsáveis directos dos desastres bancários que estiveram na origem directa da crise financeira global gozaram até agora, nos Estados Unidos e na Europa, salvo raras excepções, de uma total impunidade cicil e criminal.

Finalmente, a cereja no topo do bolo,a vigilância do sistema bancário, doravante confiada na zona euro ao Banco Central Europeu, estará sob a responsabilidade do vice-presidente Vítor Constâncio, socialista português e governador do Banco de Portugal, o regulados bancário na altura em que os "cavaquistas" do BPN se entregavam às suas acrobacias nauseabundas. "Fermez le ban !" (idiomático: "Fim de proclamação!")

(1. Père Joseph du Tremblay ficou conhecido pelo seu papel de conselheiro diplomatico de Richelieu).

 

in Point de vue éco - Orange Finance.fr

 

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